Cia Atravessa a Porta realiza ciclo de conversas VIDA-OBRA, saúde mental e arte

Projeto que une arte e saúde mental compartilha suas experiências, performances e convida profissionais nacionalmente reconhecidos

A Companhia Atravessa a Porta, projeto de encontro entre a experimentação e produção artística e o cuidado em saúde mental, realiza nos dias 09 e 10 de dezembro o ciclo de conversas “VIDA-OBRA, saúde mental e arte”. A ação é o resultado de oficinas ministradas por artistas de Brasília desde agosto. O foco dos encontros era experimentar com os corpos novas coletividades e também formas de fazer arte. No ciclo de conversas, essas experiências serão compartilhadas pelos/as profissionais e frequentadores/as dos serviços de saúde mental que também atuam com a arte e a saúde mental. O evento acontecerá na plataforma Zoom e também será transmitido pelo YouTube da Cia. Para receber certificação, é necessário se inscrever no site: www.atravessaaporta.com.

A programação inclui, para além dos debates e bate-papos, apresentações de vídeo e performances dos frequentadores do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II do Paranoá, onde o projeto é desenvolvido e a Cia atua há vários anos. Yasmin Adorno, artista visual graduada na Universidade de Brasília (UnB) e uma das idealizadoras do projeto, ressalta a importância do fazer artístico para além da obra e como o processo é fundamental para a saúde mental: “acredito que o fazer da arte é uma busca por outras formas de expressão e isso pode contribuir em um processo clínico”.

Amanda Oliveira, psicóloga, diretora da Cia Atravessa a Porta e curadora do evento, pesquisou no mestrado e no doutorado sobre oficinas de teatro, cinema e outras linguagens na psicologia clínica. Os resultados mostraram a influência positiva das artes na saúde mental. “Acredito nesta clínica como espaço de cuidado e como motor transformativo da cultura, uma micropolítica estética antimanicomial”, explica. O projeto é realizado com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Distrito Federal (LIC-DF).

Saúde mental e arte

Desde o trabalho de Nise da Silveira e parceiros, iniciado na década de 1940, o Brasil construiu uma linhagem de experiências que demonstram que a arte e sua abertura para formas diversas de linguagem podem contribuir para a construção de novas relações pessoais e sociais com o que é entendido como “loucura”. Com a Reforma Psiquiátrica, que se fortalece com a criação da Lei 10216 em 2010 – lei que defende o tratamento de saúde mental comunitário –, reforçou-se a necessidade de espaços sociais para o cuidado em saúde mental, em diálogo com a cultura.

A existência desses espaços é necessária e urgente, uma vez que contribui com a desconstrução de preconceitos em relação ao sofrimento psíquico humano – questão de saúde pública atual – além de gerar enriquecimento cultural e contribuir com o tratamento de saúde mental em liberdade. A Cia Atravessa a Porta trabalha inscrita nestas tradições, por uma sociedade sem manicômios e pela construção de uma cultura antimanicomial.

Conheça a Cia Atravessa a Porta

A companhia Atravessa a Porta foi fundada em 2012, no desejo de continuar o trabalho de um grupo que montou um pequeno espetáculo intitulado “Presépio de Adulto”, num ciclo de oficinas de teatro realizadas no Caps II Dra Juliana Garcia Pacheco, no Paranoá, Distrito Federal. Ela foi batizada em decisão coletiva, a partir da ideia de atravessar as portas dos manicômios e mesmo dos serviços comunitários de saúde mental para levar criações artísticas de pessoas entendidas como loucas para a rua e para a sociedade, defendendo o valor cultural dessas criações e o direito à cultura de seus autores.

A partir de 2013, a Cia Atravessa a Porta ampliou suas possibilidades de linguagem, tornando-se um projeto maior, que envolve teatro, cinema, videoarte, performance, cultura antimanicomial e cuidado em saúde mental, tendo realizado diversos trabalhos com essas linguagens. Da cia participam frequentadores dos serviços de saúde mental, estudantes, artistas e profissionais da clínica psicossocial. A busca é por sustentar uma experiência tanto clínica como político-estética, para contribuir com a criação de espaços sociais para a loucura e para a cultura antimanicomial, pautados na diversidade cultural e ocupados pelas pessoas que fazem tratamentos em saúde mental, em lugar de autoria e criação coletiva.

Serviço

Ciclo de conversas VIDA-OBRA, saúde mental e arte

Quando: 9 e 10 de dezembro de 2021, das 17h às 20h

Onde: https://www.youtube.com/atravessaaporta

Inscrições para certificação: https://atravessaaporta.com/eventos/ciclo-de-conversas-vida-obra-saude-mental-e-arte/

Site: www.atravessaaporta.com

Contato: Joceline Gomes – (61) 98163-6021

Link com fotos e vídeos de divulgação:

Programação

9 de dezembro

17:00 – Abertura do evento e exibição de vídeo

17:10 às 18:10 – Mesa 1: Cia Atravessa a Porta e artistas residentes

18:25 – Intervalo

18:30 – Mesa 2: Carlos Lin (DF) + Gina Ferreira (RJ) + Peter Pál Pelbart (SP) + Tânia Rivera (RJ)

10 de dezembro

17:00 – Abertura do evento e exibição de vídeo

17:10 às 18:00 – Apresentação do grupo O Maluco Voador e conversa com os integrantes

18:15 – Intervalo

18:30 às 19:30 – Mesa 3: Lula Wanderley (PE) + Tales Ab’Sáber (SP) + Thiago Petra (DF)

19:30 às 20:00 – Encerramento do evento com apresentação da Cia Atravessa a Porta

Convidados

9 de dezembro

Carlos Lin (DF)

Carlos Lin é artista visual, historiador da arte, mestre em arte, especialista em psicologia, educação e linguagens artísticas, professor, curador independente e crítico. Nasceu em Barretos (SP). Atualmente, é professor de história da arte, coordenador de cursos livres e de grupos de estudo, além de participar em projetos pontuais. Foi membro do Conselho de Cultura do DF para a área de artes visuais e assistente curatorial para a exposição “100 anos de Athos Bulcão”. Das curadorias, destacam-se a exposição coletiva “… suspensões…”, “A seco” de João Angelini e “Fora do lugar” de Rodrigo Paglieri. Foi coordenador geral do Ateliê Livre da Clínica Anankê, coordenador pedagógico do programa Educativo Artes Visuais do CCBB e do curso de licenciatura em artes visuais da FADM e professor no Departamento de Artes Visuais da UnB. Participa de exposições individuais e coletivas, com destaque para “Não Matarás”, “Tripé-Basília”, “Átimo”, “A pele do mundo” e “O livro dos dias”.  Atua na interface entre arte contemporânea, história, teoria e crítica da arte, literatura, psicanálise e filosofia. Publica textos técnicos e poéticos com regularidade.

Gina Ferreira (RJ)

Gina Ferreira é psicóloga doutora em Psicologia social pela Universidade de Barcelona. Ex-Coordenadora do Serviço de Saúde Mental do Município de Angra dos Reis (94-96) e idealizadora do projeto “De Volta pra Casa” contemplada com o Prêmio interncional da WARP (Word Association for Psichosocial Rehabilitation – 1996. Ex-Coordenadora do município de Paraty (2000). Coordenadora da primeira Residência Terapêutica do Ministério da Saúde fora dos muros hospitalares. Foi representante do BRADOPTA (Governo da Catalunha) para adoção internacional no Estado do Rio de Janeiro. Atualmente trabalha no Museu de Imagens do Inconsciente como psicóloga.

Peter Pál Pelbart é professor no Departamento de Filosofia e no Núcleo de Estudos da Subjetividade da Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. Estudioso da obra de Gilles Deleuze, traduziu para o português Conversações, Crítica e Clínica e parte de Mil Platôs. Escreveu sobre a concepção de tempo em Deleuze (O tempo não-reconciliado, Perspectiva, 1998), sobre a relação entre filosofia e loucura (Da clausura do fora ao fora da clausura: Loucura e Desrazão, Brasiliense, 1989 e A Nau do tempo-rei, Imago, 1993) e sobre a relação entre política e subjetividade (A vertigem por um fio: Políticas da subjetividade contemporânea, Iluminuras, 2000, e Vida Capital, Iluminuras, 2003), da qual é co-editor. É membro da Cia Teatral Ueinzz.

Tânia Rivera (RJ)

Tania Rivera é ensaísta, psicanalista e professora do Departamento de Arte e da Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua também junto ao Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) . É autora de vários livros dentre os quais destacam-se Lugares do Delírio. Arte e Expressão, Loucura e Política (Editora n-1, no prelo), Psicanálise Antropofágica (Identidade, Gênero, Arte) (Artes e Ecos, 2020) e O Avesso do Imaginário. Arte Contemporânea e Psicanálise (CosacNaify, 20013), que recebeu o prêmio Jabuti na categoria psicologia/psicanálise. Foi curadora da exposição Lugares do Delírio (Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro), 2017 e Sesc Pompeia (São Paulo), 2018).

10 de dezembro

Lula Wanderley (PE)

Lula Wanderley nasceu em Pernambuco em Recife, colaborou, como artista gráfico, com jornais e revistas e fez experiência com poesia experimental. No Rio, desde 1976, trabalhou com Nise da Silveira no Museu de Imagens do Inconsciente e com Lygia Clark na pesquisa sobre sobre arte/corpo/psiquismo. Criou, com amigos, o Espaço Aberto ao Tempo – uma das primeiras instituições brasileiras dentro de uma Saúde Mental contemporânea. Participou do Seminário Anual do MoMA ( Nova York) e de aulas no Instituto Clark ( Massachusetts) e Universidade de Harvard (Boston). Escreveu ( editora Rocco) o livro “O Dragão Pousou no Espaço: arte contemporânea, sofrimento psíquico e o Objeto Relacional de Lygia Clark” e, pela Edições n-1, “No silêncio que as palavras guardam: o sofrimento psíquicos, Objeto Relacional de Lygia Clark e as paixões do corpo.

Tales Ab’Sáber (SP)

Tales Ab’Sáber é formado em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, por onde é mestre em Artes. Psicólogo pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde defendeu Doutorado sobre clínica psicanalítica contemporânea. É Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e é Professor de Filosofia da Psicanálise no Curso de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ensaísta interessado na imbricação de psicanálise e cultura, tem trabalhos publicados em revistas especializadas e também na grande imprensa. Em 2005 recebeu o Prêmio Jabuti na categoria “Melhor Livro de Psicologia, Psicanálise e Educação” com o livro “O Sonhar Restaurado – Formas do Sonhar em Bion, Winnicott e Freud” (Ed. 34). Autor de diversos livros como “A Música do Tempo Infinito” (2012, Cosac Naify); “Dilma Rousseff e o ódio político” (2015, Hedra), “O self cultural” (2016, e-galáxia) e “Winnicott: Experiência e paradoxo” (2021, Ubu editora).

Thiago Petra (DF)

Psicólogo Antimanicomial e Acompanhante Terapêutico. Mestre e pesquisador em saúde mental e cultura. Professor de Psicologia Social Comunitária e Políticas Públicas. Supervisor de Plantão Psicológico, na abordagem fenomenológica. Foi diretor do Instituto de Convivência e Recriação do Espaço Social – INVERSO (2007 a 2019). Foi coordenador da oficina ‘Loucura e Intervenção Urbana’ (2007 a 2019); ganhadora do Prêmio ‘Loucos pela Diversidade’, organizado pelo Ministério da Cultura e pela Fiocruz (2009). Foi um dos organizadores do livro ‘Portas Abertas à Loucura’ (2017); sobre convivência e desinstitucionalização. Foi um dos organizadores da Cartilha ‘Como você está hoje?’ (2021); que traz o mapa de acolhimento em saúde mental do Distrito Federal. Desde 2011 coordena o Bloco do RivoTrio; que propõe uma folia ativista que questiona as práticas manicomiais e luta pelo direito da loucura pertencer a participar da cidade.

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